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NOVO LIVRO DE NANI

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Esta é uma reedição ampliada e ilustrada de Feliz e Orgulhoso, Envaidecido Mesmo, que acabou de sair pela Editora Lê. Tem o prefácio do Reinaldo do Casseta. O livro tá muito legal, é meu lado contador de histórias. Fiquei feliz e orgulhoso, etc... Aqui uma mostra dos contos curtos que adoro escrever.



Prefácio do Reinaldo (Casseta & Planeta)

O Nani é, sem dúvida, um dos caras mais criativos que eu conheço. O homem é uma usina de piadas, uma avalanche de ideias. Ele não para: já publicou mais de vinte livros, já desenhou umas dez mil tirinhas e milhares de cartuns. Mas, ultimamente, estou gostando muito de saborear seus textos. Porque o cara também é um escritor com E maiúsculo. Vocês podem comprovar, neste e em outros livros, que o cara é craque nos textos curtos e enxutos. Para mim, ele é uma mistura de Dalton Trevisan com Mário Quintana, só que mais engraçado e escrachado. Estou esperando os próximos livros. Que venham muitos. Parece que o sonho do Nani é chegar à marca dos 100 livros publicados. E o lançamento do centésimo, provavelmente, será no Maracanã, tipo o milésimo gol do Pelé; com muita festa e aquela coisa toda...


A Procura


Não foi por vocação que ele se tornou caixeiroviajante. Escolheu esta profissão porque assim poderia ir de casa em casa, de cidade em cidade, de estado em estado, enfim, percorrer todo o País à procura de sua noiva, que fugira com outro, para onde ninguém sabia.

Os anos passaram. Ele gastou muita sola de sapato, percorrendo tantas cidades, batendo a tantas portas, que até perdera a conta. Envelhecera. Sentia-se cansado e sabia que a ex-noiva (já admitia ser ela ex) devia ter mudado muito; mas tinha certeza de que a reconheceria, mesmo depois de tanto tempo.

— Mãe, tem um moço aqui perguntando se a senhora quer comprar toalha de mesa — gritou a filha para o interior da casa, de onde a mãe respondeu, também aos berros:

— Não quero nada não. E eu não gosto de conversar com vendedores ambulantes, porque com eles eu sempre passo pelas forcas caudinas.

— Passar pelas forcas caudinas! — o caixeiro-viajante repetiu atônito. Tirando alguns acadêmicos, apenas a sua ex-noiva usava aquela expressão. Sim, só podia ser ela. Arriscou com voz insegura, chamando para o interior da casa: — Marilda...

E aquela que foi sua noiva um dia, apareceu, vinda da cozinha.

— Marilda, sou eu, Lauro...

Sentaram-se. Ele contou de todas as solas de sapatos gastas, e de todas as portas a que bateu à sua procura. Ela contou que tinha 6 filhos e um marido silencioso, contou que não lia mais, e que ia ser avó. Ele sentiu que perdera o romantismo e o amor, em alguma rua de alguma cidade, ou dentro de um dos tantos ônibus em que viajou.

E sentiu-se estúpido. Despediu-se dela, apressadamente, e foi embora com sua mala.

— Quem era aquele homem? — quis saber a filha.

— Meu primeiro namorado. Fomos noivos. Abandonei- o para casar com seu pai. Ele percorreu mais de duas mil cidades me procurando.

— Pra quê?

— Pra me vender toalha de mesa — respondeu a mãe, voltando para a cozinha.


O Tatuado Tatuagem


Então era aventureiro, e gostava de viagens, e de viver perigosamente, e estivera em guerrilhas na América Central, e foi mercenário na África, e fez contrabando no Paraguai, e combateu contrabandistas em Mato Grosso, e foi garimpeiro e procurou por todo o mundo sinais de extraterrestres, e alçava grandes voos dentro da vida, e por isso levava no braço direito uma águia tatuada.

E um dia ele atracou numa mesa de bar de onde via, em frente, no porto, os navios chegando e partindo. Ele ficava. O mar já não lhe sugeria mistérios, não ouvia mais os apelos das aventuras. As estradas, ele sabia, o levariam de volta àquela mesa, àquele bar onde passava os dias bebendo e sentindo o braço direito doer um pouco. A águia tatuada, inconformada, se debatia e tentava se desprender de seu braço. E ela conseguiu. O homem viu, com tristeza, a águia voar até sumir. Ele sabia que isso iria acontecer, pois o tatuador lhe dissera:

— Você não tem tatuagem, a tatuagem é que tem você.


O Pleonasmo


A menina já falava frases inteiras. Comunicar é entrar no mundo novo das palavras e no sentido das coisas, embora, para a criança, quanta coisa carece de sentido! Deve ser uma vitória aprender uma palavra nova todo dia, ou várias. O que é isso, o que é aquilo, por que isso, por que aquilo... Os amigos de seu pai conversavam, e ela (uma garotinha, Marcela) ficava atenta. Um dos adultos disse uma palavra da qual ela gostou: pleonasmo. Mas nada disse. Quando, à noite, o pai entrou em seu quarto para o beijo de boa-noite, ela disse, autoritária:

— Eu quero um pleonasmo.

O pai tentou explicar o que era, mas desistiu antes de começar a dizer. Como explicar para uma criança de 2 anos o que era um pleonasmo? E a filha se recusava a dormir enquanto o pai não lhe desse um pleonasmo. A mãe entrou no meio tentando acalmar a filha, enrolá- -la, levando a conversa para outro lado, fazer com que ela esquecesse aquilo. Não funcionou.

Marcela queria porque queria um pleonasmo, e chorava de dar dó. O pai, num último recurso, foi até a garagem, pegou na caixa de ferramentas uma arruela de bom tamanho (para que a filha não pudesse engoli-la) e deu para Marcela dizendo que aquilo era um pleonasmo. A filhinha parou de chorar, sorriu, e colocou a arruela ao lado de seu travesseiro e dormiu em paz.


Tricoteiros Anônimos


Virou moda tricotar para relaxar, evitar o estresse e unir pessoas para bate-papos descontraídos. Uma terapia, dizem. Parece uma coisa ingênua. Mas não é. Tanto que, no Rio de Janeiro, já existe o T.A.: Tricoteiros Anônimos.

O T.A. atende, exclusivamente, homens que se viciam em tricô. Estes dependentes levam suas agulhas e linhas para o trabalho e se escondem no banheiro para tricotar blusas, gorros, meias, sapatinhos de bebê. Muitos, tomados pelo vício, viram-se demitidos por faltarem ao trabalho. Os que tomam consciência do problema procuram o T.A. As reuniões são como as dos Alcoólicos Anônimos.

— Meu nome é Antonio Carlos e estou há cinco dias
sem tricotar.

Palmas.

Alguns relatam como começaram e os problemas que tiveram. Como Luís Antonio:
— Eu andava estressado e já tinha observado que minha tia, tricoteira, era uma pessoa calma. Então, enquanto esperava minha esposa se arrumar para irmos a uma festa, dei meus primeiros pontos.

Foi o bastante para me ver pelo vício. Quando dei por mim, já tinha feito um xale inteiro. Nunca mais fui a festas com minha mulher. Preferia ficar em casa tricotando. Minha mulher arranjou um amante e me abandonou. Arrasado, fiquei três meses fechado em casa e fiz 120 casaquinhos de neném.

Outro depoimento; este, de Waltencir:

— Só me dei conta de que era um tricoteiro quando, de madrugada, uma de minhas agulhas quebrou e eu saí pelas ruas procurando uma loja aberta. Não encontrei. Fui preso por tentar roubar agulhas e lã da loja de onde era freguês.

Muitos se curam do vício. Mas é passo a passo, dia a dia... Muitos não resistem e têm recaídas que os deixam humilhados. O tricô é a porta de entrada para outros vícios. Muitos tricoteiros passam a fazer bainhas em calças, depois experimentam atividades consideradas mais difíceis: tornam-se viciados em corte e costura. Fazem saias, blusas e vestidos (de alcinha, com corpetes drapeados, com golas japonesas, enfeitados com miçangas e bordados de ponto cheio, ponto de cruz, consumindo linhas ilha-da-madeira, cairel, meadinhas). Isso quando não acontece de falecerem vítimas de overdose de sianinhas. Uma tragédia!

1 comentários:

Rico disse...

Que Massa, Nani! Vou procurar. Tenho alguns livros seus aqui na minha biblioteca, sou fã.
Um grande abraço!
Rico