Noel era um gênio e como todo gênio deixou suas profecias. Em Conversa de Telefone ele já antecipa o idioma inglês rondando a nossa língua. Ele, também profetizou tudo sobre o cigarro. No samba Jurei (que eu adoro) ele mostra, falando do cigarro, o caráter (dubitativo? débil?) do brasileiro. “Jurei não mais amar/ pela décima vez/ Jurei não perdoar o que ela me fez/ O costume é a força/ que fala mais alto que a natureza/ e que nos faz dar prova de fraqueza/ Joguei meu cigarro e pisei/ Não tendo outro/ aquele mesmo apanhei e fumei/ Ao tragar a fumaça neguei minha raça/ Chorando, ao refletir/ Ela era o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir.” Em “Conversa de Botequim” ele manda um recado para o charuteiro mandar a revista , o cinzeiro e o isqueiro. E, em sua carta ao doutor Edgar, fala não ter material para o exame de escarro (já estava muito doente). Como profeta, Noel também adivinhou as privatizações. Na música Quem dá Mais ou (Leilão do Brasil): “Quem dá mais... Por uma mulata que é diplomada em matéria de samba e de batucada(...) Quem dá mais por um violão, quem dá mais por um samba feito nas regras da arte” e pergunta “quanto é que vai ganhar o leiloeiro/Que é também brasileiro/ e em três lotes vendeu o Brasil inteiro? – Noel já falava em FHC e porque não? de Lula e as privatizações dadivosas de ambos.
Na famosa polêmica com Wilson Batista, o último verso diz: Malandro é palavra derrotista/Que só serve para tirar/ todo valor do sambista/ Proponho ao mundo civilizado/não te chamar de malandro/ E sim de rapaz folgado.” Nássara me confessou certa vez o significado de rapaz folgado neste verso usado pelo Noel para ofender o seu rival Wilson Batista. Rapaz folgado não era no sentido de malandro e boa vida; o folgado queria dizer largo, no sentido boiola da palavra. Uma gíria da época deles. Acho que isso é um furo. Quero dizer: também um furo jornalístico.
Nássara, além de sambista e caricatura (segundo uma definição de não sei quem, ele fazia logotipos de pessoas) e excelente compositor. É dele a famosa marchinha “Alá la ô/ mas que calor, ô, ôoo...” Ele fez as melhores caricaturas do poeta da Vila, seu parceiro e vizinho. Nas caricaturas, Noel Rosa estava sempre fumando porque sempre fumou, ora.
Noel e Nássara, dois gênios da raça! (Nani)
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Noel e Nássara
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Marcadores: contos e causos, nássara, noel
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1 comentários:
Genialidade puxa genialidade!! Noel era o samba encarnado, assim como o Nássara que, na minha humilde opinião, foi o maior caricaturista que o Brasil já teve!
Abs
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